segunda-feira, 25 de maio de 2009

Auditores e auditorias

É impossível passar ao lado da situação que atravessa o sistema financeiro em Portugal. O caso BCP há alguns meses atrás e, mais recentemente, o caso BPN, deixaram a nu, algumas falhas ao nível da supervisão e regulação do sector. Que tipo de empresa pode ser mais fiscalizada e controlada, que um banco? Empresas que, para além de serem cotadas em bolsa, e consequentemente serem obrigadas a cumprir os mais rigorosos requisitos, têm uma obrigação social e moral, fundamental, de guardar o dinheiro e poupanças dos seus depositantes.

São empresas com contas certificadas e auditadas que se submetem à fiscalização do regulador de mercado.

Apesar disso, sabemos hoje, dois bancos - BCP e BPN - não respeitaram as leis do mercado, da república. BCP e BPN, como todos os bancos e demais empresas assim obrigadas, cumpriram todos os requisitos formais perante o Estado.

Ou seja, ainda que estas duas instituições bancárias estejam sujeitas às mais apertadas formas de controlo e fiscalização, embora apresentem as suas contas certificadas e auditadas, os problemas existiram. Seguramente de natureza diferente em cada um dos casos, é factual que algo não correu bem.

Curiosamente existe uma coincidência entre BCP, BPN e o SCP.
As empresas de auditoria são as mesmas. A empresa que auditou, e continua a auditar as contas do BCP é a KPMG. A empresa que auditou as contas do BPN é a BDO. No SCP a KPMG audita as contas do Clube e a BDO audita as contas da SAD.

Não afirmo, porque não é a minha convicção, que existe uma relação directa entre os problema detectados nas duas instituições bancárias e algum problema eventual nas contas do Sporting, pelo facto das empresas de auditoria serem as mesmas.

Não faço, sequer, nenhuma ligação directa do facto de representantes das duas auditoras em questão estarem, ou terem estado, nos órgãos sociais do Clube, nomeadamente no Conselho Fiscal, embora tal não me pareça ético ou benéfico de forma a garantir o estatuto de independência, quer dos órgãos sociais, quer das empresas de auditoria.

As conclusões que retiro desta coincidência, é que as auditorias não são infalíveis, nomeadamente a detectar problemas de gestão graves. E que os sistemas de fiscalização e controlo deverão ser independentes.

A única questão que coloco, é a de saber que tipo de alertas ou recomendações, fizeram as mesmas empresas, para que o Clube pudesse evitar uma situação de ruptura financeira gravíssima como é a que estamos a assistir actualmente. É hoje evidente que o Projecto Roquete não era exequível. Provavelmente fizeram, mas ninguém sabe. E sendo estas empresas quem assume a responsabilidade da informação das contas do Grupo Sporting perante o Estado, têm neste caso alguma responsabilidade, ética e moral.

O Movimento Leão de Verdade continua a bater-se pela realização de um Livro Branco sobre a evolução do Grupo Sporting, sobretudo a nível económico-financeiro e patrimonial.

Parece-nos claro que existiram erros ao nível da gestão ao longo dos últimos 12 anos. Todavia não colocamos a hipótese, com a informação que dispomos actualmente, que estejamos perante casos de polícia como nos casos das instituições financeiras que viram a ser notícia recentemente.

No entanto, existem vários esclarecimento - sobre alienação de património, aquisições de activos desportivos e não desportivos etc - que o Conselho Directivo continua a não querer fazer. Questionado formalmente pelo nosso Movimento, recusou sistematicamente a fornecer a informação pretendida.

Numa tentativa conjunta - Leão de Verdade e Órgãos Sociais - de evitar a AG proposta pelo nosso Movimento, levamos a cabo várias reuniões. O acordo acabou por não se verificar pela recusa expressa dos órgãos sociais em não permitir que uma empresa externa - a decidir por concurso excluindo as que já trabalham ou trabalharam para o Grupo Sporting entre elas KPMG e BDO - pudesse validar o trabalho realizado.

Parece-nos legitimo que os órgãos sociais queiram fazer um trabalho que incide sobre os próprios, embora pense que todos os Sportinguistas livres e independentes deveriam preferir que os órgãos sociais fossem validados por uma entidade externa e independente, sob pena de vivermos perante as mesmas suspeitas levantadas até hoje.

Acreditamos que esta recusa, acaba por se traduzir numa oportunidade perdida, de se poder apaziguar o Clube, dando a todos a informação necessária e (re)confirmada por uma entidade externa e independente.

Não somos apenas nós, enquanto Movimento Leão de Verdade, a desejar esta informação. São milhares de sócios e simpatizantes que querem saber a Verdade e aguardavam uma oportunidade como esta para evitar uma disputa pela informação devida a todos.


Texto escrito em Novembro de 2008 que não chegou a ser publicado no site do LdV

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